Ela começou a carreira com criancinhas e logo, no ano seguinte, apareceu uma turma de crianças com dificuldades especiais. Desafiavam-na e aceitou desafio. Todos tinham algum transtorno e ela só tinha 18 anos. E eram , coincidentemente, 18 crianças.
Aquela sala apertadinha onde quase não dava para passar entre as arteiras e aqueles olhinhos sedentos de amor e saber.
Quem eram aqueles anjos que a vida lhe colocava nas mãos? – E foi descobrindo um a um: – Um afago, a reação; uma brincadeira individual, a reação; uma outra mais coletiva, a reação; conversa com os pais antes da aula; a reação. Parte do “segredo” estava na reação dos pais. E entre bênçãos e revoltas, bem devagarinho ela conquistou a todos. Anotar tudo. Estudar. Conversar. Pesquisar… Não havia biblioteca, nem os aparelhos eletrônicos que facilitam ou dificultam a vida, hoje.
Mas havia um que pouco conseguia absorver o que se falava, não fazia as tarefas, fala e não dizia todas as palavras e demorava com o lápis no ar até lembrar qual letra deveria colocar. Este era chamado de “normal” quando lhe passaram os alunos. Ela, como os outros eram “mais” especiais, dera maior atenção aos demais.
Até que um dia o menino chorou e disse:- Você não gosta de mim. E choraram juntos. Ela talvez por saber tão pouco, ele por falta de carinho.
Descobriu que seu apelido era “Devagar” e depois de uma longa conversa, muitas guloseimas e uma turma inteira chorando juntos sem entender o porquê, toda a turma de “especiais” resolveu ajudar o “menino” a aprender a ler e escrever. E, pasmem. Entre os 18, só 3 foram “alfabetizados”, os outros eram muito “especiais”, preferiam aprender outras coisas.
Agora, ela, a professorinha, sabe que o nome dessa “coisa” – DISLEXIA. Sabe também que qualquer turma de alunos necessita de multidisciplinaridade, que lentidão ao pensar pode ser algo que atrapalhe a vida desde a infância, que nem todos são “especialmente” iguais e que só com amor e diálogo a vida de cada um e cada uma será melhor. E que nenhuma criança deve ter menos ou mais atenção por qualquer diferença e que O SUS e os PROFESSORES não podem ser substituídos pois uma criança ou qualquer pessoa com qualquer diferença deve ser atendida e acompanhada por uma equipe, e, não nos esqueçamos que temos gênios que são disléxicos.
Por Graça Andreatta/ Foto: Isabela Teixeira