BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Preso há três dias na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, sob a justificativa de que poderia atrapalhar as investigações, o ex-presidente Michel Temer, 78, vai enfrentar outros oito inquéritos que o manterão na mira do Ministério Público nos próximos meses, ainda que agora seja solto.
Mas inquéritos abertos em São Paulo e Brasília têm potencial para levar o emedebista a uma via-crúcis de depoimentos e outras medidas investigativas semelhante à vivida por políticos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Sérgio Cabral (MDB-RJ).
“Sendo mantido o devido processo legal e o presidente podendo apresentar sua defesa, nós temos absoluta convicção de que todas essas acusações serão superadas. O presidente está disposto a contribuir com a Justiça. O que não pode acontecer é uma prisão absurda como essa, arbitrária”, diz o ex-ministro Carlos Marun (MDB-MS), aliado de primeira hora de Temer.
O ex-presidente foi preso preventivamente (sem prazo para ser solto) na quinta (21) na operação Descontaminação. A ordem partiu do juiz Marcelo Bretas, responsável por um inquérito aberto pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, e enviado em fevereiro à Justiça Federal no Rio.
O destino foi a 7ª Vara, de Bretas, porque ali já foram julgados crimes envolvendo a estatal Eletronuclear. Nesse inquérito, Temer é suspeito de receber propina de contratos para a construção da usina nuclear de Angra 3.
Procuradores do Rio apontam o ex-presidente como líder de um grupo criminoso que atua há cerca de 40 anos desviando recursos públicos. Também foram presos o ex-ministro Moreira Franco e outros investigados.
As defesas dizem que as prisões foram ilegais porque não há indícios de que os suspeitos tenham agido recentemente para atrapalhar as apurações. A ordem de prisão de Bretas cita fatos de 2017, mas o Ministério Público sustenta que há indícios de que o grupo seguia ativo, como uma tentativa de depósito milionário na conta de uma empresa envolvida no esquema no ano passado.
Junto com o inquérito enviado por Barroso ao Rio foram abertos outros quatro, remetidos à Justiça Federal em São Paulo. O caso no Rio deslanchou mais rápido que os de São Paulo porque, entre outros motivos, os procuradores fluminenses já tinham informações de operações anteriores relativas à Eletronuclear, como a Radioatividade.
Além disso, havia no Rio a delação de um dos sócios da Engevix, José Antunes Sobrinho, firmada com a Polícia Federal no ano passado. Essa delação é uma das principais bases da investigação.
Sobrinho relatou o suposto caminho do dinheiro: uma fornecedora da Engevix teria pago cerca de R$ 1 milhão de propina a uma empresa de um amigo de Temer, o coronel João Baptista Lima Filho, um dos presos na quinta.
A Procuradoria em São Paulo informou que não pode se manifestar sobre os quatro novos inquéritos recebidos em fevereiro porque eles estão sendo analisados. Como cada inquérito tem um ritmo diferente, a expectativa é que Temer seja chamado a prestar esclarecimentos diversas vezes no desenrolar desses casos.
Dos quatro novos inquéritos em São Paulo, três têm como peça-chave a empresa Argeplan Arquitetura e Engenharia, envolvida com Angra 3. Procuradores apontam que a firma, registrada em nome do coronel Lima e de outros sócios, pertence de fato a Temer.
Em uma dessas investigações, a Argeplan é suspeita de superfaturar e deixar de executar contratos de R$ 100 milhões para obras no Tribunal de Justiça de São Paulo.