Empreender é, por natureza, um ato de coragem. Requer visão, resiliência e disposição para correr riscos — e isso o capixaba tem de sobra. Nos últimos anos, porém, tem se tornado perceptível um novo movimento: o crescente interesse de empreendedores do Espírito Santo em levar seus negócios para fora do Brasil. Mais do que uma tendência, trata-se de uma mudança de mentalidade impulsionada por fatores globais e locais.
“É verdade que o Espírito Santo vem se destacando como um Estado com boas condições para o desenvolvimento de negócios. A infraestrutura logística, os avanços em tecnologia e inovação, além de um ambiente mais estável do que em outras regiões do país, são pontos fortes. Existem iniciativas de incentivo, programas de apoio e uma cultura empreendedora em expansão. No entanto, como em qualquer parte do Brasil, ainda há desafios estruturais que fazem com que muitos olhem para fora em busca de alternativas”, explica a Sarah Venturim Lasso, PhD em Management Engineering e consultora de negócios e em empreendedorismo internacional e inovação.
A internacionalização dos negócios, hoje, não é mais privilégio de grandes empresas. Com a digitalização e a economia global cada vez mais conectada, empreendedores de todos os tamanhos passaram a considerar mercados estrangeiros como caminhos viáveis para expansão ou até mesmo para iniciar uma jornada. Muitas vezes, não se trata de abandonar o que se construiu aqui, mas de buscar novos horizontes, diversificar riscos e acessar oportunidades que, por diferentes razões, podem se concretizar com mais rapidez fora do país.
“Esse movimento não deve ser interpretado como um sinal de desistência do Brasil ou do Espírito Santo. Ao contrário: é um reflexo do amadurecimento do empreendedor capixaba, que passou a enxergar o mundo como um campo aberto para suas ideias. Em vez de se limitar pelas fronteiras nacionais, ele busca novos espaços para inovar — e frequentemente leva consigo sua identidade, cultura e forma única de fazer negócios”, acrescenta Lasso.
É importante, portanto, que essa reflexão inspire também uma ação local. Como podemos, enquanto sociedade e poder público, continuar fortalecendo o ambiente de negócios no Espírito Santo para que ele não apenas forme talentos, mas também os retenha? Como garantir que o empreendedor veja aqui não só o ponto de partida, mas também o lugar ideal para crescer?
“O olhar para fora é legítimo, necessário e saudável — faz parte de um mundo em que pensar global se tornou regra. Mas olhar para dentro com atenção e compromisso também é essencial. O futuro do empreendedorismo capixaba pode (e deve) incluir o mundo, sem perder as raízes que o tornaram forte desde o início”, conclui a especialista em empreendedorismo internacional.
Sarah Venturim Lasso
PhD em Management Engineering pela Technical University of Denmark (DTU) e pós-doutora em Administração pela Fucape Business School. Consultora de negócios, especialista em empreendedorismo internacional e inovação.
por Daniel Alencastre/ Foto: