por Vanuza Oliveira
Começamos nossa série de matérias sobre Mulheres Empoderadas com a advogada de Guarapari Jorgina Del Pupo, profissional reconhecida no seu meio por sua competência e seriedade.
Jorgina se considera plenamente realizada profissionalmente. “Comecei num escritório de advocacia há 32 anos e hoje tenho o nome reconhecido no meio jurídico, o que representou um grande feito, já que iniciei meu trabalho numa época em que a advocacia era exercida e amparada basicamente sobre o pilar da tradição. Grandes nomes da advocacia eram sucedidos por filhos, netos ou por alguém do convívio familiar ou social por eles preparados. Não havia espaço para desconhecidos e não se mostrava viável ser reconhecido na profissão senão sob a tutela de um nome de família ou tradição de um escritório já estabelecido”, conta.
A advogada relata que, quando começou, tudo era mais difícil. “A advocacia, ao contrário de hoje, que é feita por grandes bancas, ou grupos de associados, era uma atividade solitária. Os escritórios eram formados por um ou no máximo dois advogados, e sempre por nomes de famílias com histórico na atividade, ou seja, herdeiros de alguém do meio jurídico (advogados, juízes ou cartorários) ou ainda integrantes de famílias tradicionais da comunidade ou de extrato social diferenciado (filhos de grandes comerciantes, proprietários de bens e etc.)”.
Começou com muita garra e coragem. “Neste cenário, eu desbravei um mundo que não estava projetado pra mim, uma mulher muito jovem (tinha apenas 24 anos quando montei meu escritório), filha de família sem posses, pequenos comerciantes sem grau de escolaridade. E ainda, que teve a audácia de começar sozinha, sem qualquer respaldo de um nome experiente ou tradicional na atividade. Montei um escritório muito modesto, dividindo o espaço em uma pequena sobreloja no centro de Guarapari, onde instalei uma mesa, uma estante de aço com meus poucos livros e uma máquina de escrever, itens que foram adquiridos ao longo dos dois últimos anos do curso de Direito”.
Uma vida cheia de trabalho e persistência. “Eu sabia o que queria da vida. Eu queria ser uma advogada. Tinha coragem, muita disposição e fé. Sabia que assim como consegui me formar, vencendo todas as barreiras que se colocavam contra mim e minha condição, assim também faria no Direito. Não sabia de fato onde iria chegar, mas sabia que iria conseguir. Minha mãe, mesmo sem ter estudado, desde muito cedo dizia diuturnamente a mim e a meus dois irmãos, que o estudo era a arma que tínhamos para vencer. Ela repetia isto: estude, estude e lute! Isto era tão repetido que acho que soava como um mantra, trazendo na minha mente a certeza de que era o único caminho. O estudo significava a arma para vencer a insegurança, a ameaça da escassez, a invisibilidade social”.
Conseguiu vencer com todas as adversidades. “Estudei em escola publica e chegar à faculdade de Direito foi em si um grande feito, já que estudei para o vestibular em fascículos comprados em banca de jornal. Concluir a faculdade foi também um intento, pois trabalhava o dia inteiro e estudava a noite. Faltava dinheiro para livros, para lanche, para passagens de ônibus. Fui, inúmeras vezes, para faculdade de carona. Iniciei meu curso de Direito em Cachoeiro, onde cursei por dois anos, indo e voltando todos dias a partir de Guarapari, e me transferi depois para Vila Velha, quando minha família se mudou para Vitória. Conclui o curso na UVV”.
Os anos de faculdade foram muito difíceis, de muito esforço, de muita dedicação e de renuncia. “Trabalhava o dia inteiro, as aulas eram a noite, então dormia tarde e acordava muito cedo para estudar antes de ir para o trabalho. Igualmente eram os finais de semana, nos quais me dedicava ao estudo. Também não foi diferente quando concluí o curso e imediatamente montei meu escritório. Estudava de forma permanente, incansável. Os livros eram poucos e sem recursos para adquirir muitas obras restava fazer pesquisas e estudos dos casos nas lendárias e saudosas mesas de estudo disponibilizadas nas duas livrarias jurídicas que existiam na cidade alta. Ainda não havia Internet”.
Ousadia e força de vontade. “Na trajetória da minha vida profissional fui muito audaciosa ao assumir casos complexos e polêmicos, mesmo em inicio de carreira. Meu diferencial era o fato de ser aguerrida e muito dedicada. Acho que no primeiro contato saltava aos olhos dos clientes a minha determinação e isto gerava confiança. Inicialmente atuava na área cível em geral, mas comecei a me especializar em direito imobiliário e direito das obrigações, pois tinha experiência com a Lei de incorporações e contratos. Nesta linha de atuação passei a prestar assessoria empresarial, que continua sendo a maior área de atuação do meu escritório”.
Se tem medo, vai com medo mesmo. “Em muitos momentos da minha carreira aceitei grandes desafios, como aos cinco anos de profissão, quando aceitei convite para assumir a procuradoria do Município de Guarapari, sem experiência pratica em direito administrativo. E como enfrentei este desafio! Mais uma vez o fiz estudando, estudando mais que tudo, mais que a maioria. Com longas a longas horas e dias de estudo. Sempre entendi que a segurança vem com o conhecimento, e buscava o conhecimento. Se tive medo? Sim, claro que sim! Mas tive mais coragem que medo. Mais vontade de vencer que medo de errar”.
Jorgina contou com o apoio de “várias pessoas. “Muitos acreditaram em mim, na minha dedicação, na minha coragem, no meu empenho. O que fiz foi o melhor que pude, foi realizar tudo que estivesse ao meu alcance. Acho que esta foi a receita para chegar aqui: muito trabalho, extrema dedicação ao meu objetivo, fé em Deus e em mim mesma.
Hoje está se sentindo realizada. “Como estou hoje? Satisfeita ao olhar para o passado e ver que consegui muito mais do que imaginei. Feliz de saber que ainda tenho muito tempo pela frente e energia para realizar outras tantas coisas na esfera profissional e pessoal. Penso que meu grande feito foi quebrar a barreira cultural e social da profissão em um tempo que este elemento era preponderante no reconhecimento do Advogado”.
A advogada sabe que há discriminação quanto às mulheres, na sua profissão. “Sobre a condição de mulher, acho que devo sim ter sofrido preconceito de alguns, ou de muitos, mas confesso que não dei a menor importância. Se fui discriminada como mulher não me abati, nem me vitimizei. Na época que comecei eram raras as mulheres que atuavam na advocacia, e as poucas patrocinavam demandas de menor complexidade, não sei se por preconceito do mercado ou por falta de disposição para enfrentar a polemica ou o embate. Imagino que inicialmente juízes e/ou advogados possam ter olhado com descrédito pra mim, mas por certo mudaram de ideia quando viram meu trabalho e minha atuação”, comenta.
“Acho que a maior dificuldade da mulher em qualquer profissão é a de se impor, e se não fui desmerecida pela minha condição de mulher é porque nunca me senti menor e nem mais frágil que os homens que competiam comigo. O exercício da advocacia é um verdadeiro duelo, e a questão é que as mulheres, até hoje, são instadas a se comportar de forma pouco agressiva, pouco ousada. Assumir riscos, ter audácia, defender posições é tão importante quanto estar capacitada para exercer qualquer tipo de atividade ou de função”, conclui Jorgina Del Pupo.
Respeito, admiracao e muito amor resumem meus sentimentos pela grande pessoal e profissional que é.
Doutora Jorgina Del Pupo!!!
Toda admiração, respeito, e carinho por esta Mulher que possui extenso rol de qualidades, sendo a seriedade e honestidade os pilares que sem dúvida a fizeram a melhor Advogada que conheço.
Dra. JEORGINA que prazer ler uma história de vida como a sua.
Parabéns mulher guerreira, corajosa, de fibra.
Deus te abençoe grandemente e poderosamente.
Tive oportunidade de ser secretária junto a sua atuação na procuradoria da PMG, com competência, seriedade e honestidade.
Mulher de fibra. Sucesso sempre. Admiração e muito carinho.