*por Vanuza Oliveira
Quando se fala do poder que as mulheres têm, logo vem à mente o nome de Lenilce Carvalho. Mulher ativa, sempre presente onde é necessária, não perde o fôlego. Exerce as funções mais complicadas com uma leveza e suavidade admiráveis.
Começou a trabalhar ainda menina. “Me formei professora com 15 anos e comecei a trabalhar logo em seguida. Num primeiro momento, fui para o interior de Alfredo Chaves, trabalhei na roça, andava a pé 15 km, dava aula para quatro turmas, fazia merenda e ficava por lá, porque o ponto de ônibus mais perto da casa onde eu ficava era a 15 km. Trabalhei na Educação 33 anos. Além de Alfredo Chaves trabalhei em Itapemirim e Piúma. Me aposentei na creche Vovó Genoveva”, conta Lenilce.
“Sou funcionária pública efetiva do Estado, posteriormente passei em outro concurso como pedagoga, também no Estado, e hoje tenho 26 anos como pedagoga. Atualmente estou cedida ao município, através de uma cessão do Estado ao Município, e ainda tenho mais quatro anos para me aposentar como pedagoga”.
Não é só no magistério que ela mostra sua competência e liderança. “Como mulher participo ativamente da comunidade católica de São Sebastião. Lá trabalhei como coordenadora por dez anos, do Ministério, da Catequese, Ministra da Palavra por 15 anos. Hoje continuo participando, mas com menos intensidade por conta das minhas outras ocupações”.
Maternidade tardia e bem-vinda
Como a maioria das mulheres, Lenilce trabalha fora, administra casa, marido e filhas. “Sou casada com o José Américo há 30 anos, temos uma longa história juntos, – meu marido é pernambucano – veio para Piúma, onde nos conhecemos. Meu marido é vice-presidente do Sicoob e mexe com barcos de pesca. Temos essa relação de trabalho e vivemos nessa correria do dia a dia”.
A maternidade chegou para ela de uma forma linda e na hora certa. “Fui mãe aos 46 anos, já numa idade bem avançada, não do normal, como todo munda, mas foi como Deus me presenteou. Tenho duas meninas gêmeas de doze anos, adotadas (fiz a adoção plena quando elas tinham um ano e dois meses, eram crianças muito frágeis, com situação social de risco, e eu abri meu coração, minha casa, minha família para acolher essas meninas que foi um dos melhores presentes que Deus me deu”.
Política feminina e suave
De uma maneira ou de outra, a veia política sempre esteve presente em todas as suas ações. “Fui diretora da Escola de Itaputanga por seis anos, fui eleita como diretora pela comunidade por duas vezes, as pessoas me procuravam com seus problemas e veio essa vontade de ser vereadora. No primeiro mandato tive 333 votos, fui presidente da Câmara por dois anos por unanimidade, e no segundo mandato fui a mais votada com 354 votos. No terceiro mandato, tive 380 votos, mas perdi na legenda. Fui a quarta mais votada no gral, mas a legenda me atrapalhou e eu não me elegi”, explica.
O nível de responsabilidade foi só aumentando com o tempo. “Em 2009, fui convidada pelo ex-prefeito Ricardo para ser secretária de Educação por quatro anos. Trabalhei muito em melhoria de escola, reforma, valorização do profissional, no Plano Municipal de Educação, compra de equipamentos. Estava sempre presente nas escolas”, relata.
“No final de 2012, me candidatei a vice-prefeita, na chapa com André Layber, e não conseguimos ganhar a eleição. E agora, no último pleito, fiz opção pelo Paulo (Cola), por ser uma pessoa que eu conheço, idônea, respeitando todos os outros candidatos, mas fiz a opção pro ele por querer uma mudança em Piúma, uma melhoria na parte estrutural da cidade”, explica.
Lenilce agora ocupa um cargo de destaque na Prefeitura de Piúma, que ela coordena com maestria. Lenilce acredita na realização dos sonhos do grupo do prefeito. “Nos projetos que estão na nossa cabeça, eu e Paulo temos vontade de colocar em prática. Eu acreditei nesse sonho, nessa mudança, ajudei Paulo no que pude, fui uma agente política importante, coordenei a campanha dele, fiz a coordenação de dois partidos, inclusive hoje eu sou presidente do PMB (Partido da Mulher Brasileira). Na eleição tivemos dois partidos: o Cidadania e o PMB. Como consequência desse trabalho, o Paulo me colocou como secretária de Gabinete, tentando ajudar e articular politicamente, fazendo um trabalho junto aos secretários para poder fluir e cumprir com o que está em nosso Plano de Governo”, esclarece.
Como ser mulher num cenário político masculino
“Quando eu fui vereadora tínhamos três mulheres eleitas: eu, Odila Pimentel e Martha Scherres. Como éramos minoria, sempre existiu um preconceito, da maior parte dos colegas, e de algumas pessoas. Nesses momentos que a gente é colocado em segundo plano, nós temos, como mulheres, noção de que temos que ter o nosso espaço. Não é por ser mulher que sou menos capacitada. Sempre combati isso e sempre travei essa luta, porque não é questão de sexo masculino ou feminino, é uma questão de potencial. Se eu tenho potencial, independente do sexo, eu tenho que colocar isso em prática”, conta Lenilce.
“Tive esses embates na Câmara, com colegas, durante a campanha quando fui candidata, porque eu disputei com vários homens. Esse embate entre homem e mulher sempre existiu na trajetória de qualquer mulher. E na minha não foi diferente, porque eu estava buscando um espaço que era mais masculino, isso trouxe um certo mal-estar”, conta.
Como mulher na Câmara, Lenilce sempre reforçou a capacidade e o potencial das mulheres piumenses. “Criei um movimento que no Dia Internacional da Mulher, figuras femininas de destaque, receber título de mulheres participativas, guerreiras do município recebiam títulos. Em todas as entidades, porque, às vezes, aquela mulher que está dentro de casa, aquela funcionária mais humilde de um departamento, se sente diminuída. E como eu via isso, o que é que eu fiz, botei um Projeto de Lei na Câmara criando o Dia da Mulher Piumense, com eventos para todas que despontavam em cada situação. Fazíamos uma reunião pública para mostrar que nós podemos, que nós somos fortes, se estivermos juntas somos maioria. Então, não podemos baixar a cabeça, temos que nos proteger”, conta com orgulho.
“Isso foi muito bom. Durante meu mandato inteiro (oito anos) a gente celebrou esse dia, não só como uma festa. Chamávamos uma delegada de polícia para falar da importância da mulher denunciar, da mulher se colocar diante dos desafios com veemência, com força, com coragem, não se omitir. Fiz esse trabalho de resgate de autoestima da mulher. Foi muito bacana mesmo”.
Por que não prefeita?
“Na verdade, naquele cenário anterior, eu queria ser candidata. Não tenho medo de desafio. Para mim a questão da gestão pública é você planejar, é você ser honesto, ter competência, ter direcionamento. Não tenho medo de assumir um cargo importante, mas a gente dá conta. Naquele momento veio a questão do preconceito. Quem escolhia não era eu. Eu estava num processo com um grupo e nesse grupo a maioria era homem. E eles escolheram um homem”, diz.
“Então, como eu não tinha armas para lutar contra isso, porque eu estava vinculada a um partido, inclusive eu não dominava o partido. E nessa convenção foi aclamado esse outro candidato. Tive que ser vice não por opção minha, mas por um contexto político também. De certa forma é uma questão até de machismo: tem que ser um homem para administrar o município. Aí eu vi que não deu muito certo”.
E daqui a quatro anos?
“Tudo acontece de forma gradativa. O cenário daqui a quatro anos vai dizer se vai estar favorável ao meu nome ou não. A gente não pode dizer que vai ser candidata daqui a quatro anos, é queimação de filme, porque esse é um processo que tem que ser construído com o passar do tempo, com a aceitação da comunidade. Você tem que se perguntar: você tem condição? De gestão eu tenho, mas não basta querer ser candidata, você tem que ter o respaldo popular. Não tenho medo desse enfrentamento, mas é uma construção”.
“Nós estamos hoje em um novo caminho. Paulo iniciou um mandato e estamos num processo. Pode ser que seja eu, pode ser outra mulher, porque Paulo não é machista, apesar de ser polícia. Ele é supersensível à essa causa feminina. Há possibilidade? Sim! Mas se tiver isso bem desenhado. Para ser uma aventura, não. Não sou aventureira. Acho que tem que ter toda uma construção e uma caminhada. Temos que pensar nisso coletivamente, junto com a gestão que eu faço parte esse desenho vai ser construído. Lá na frente veremos se temos essa musculatura política para esse enfrentamento, porque não basta ser candidata laranja, não! Tem que ser uma candidata com potencial, com respaldo popular, com um grupo com apoiadores, com pessoas em volta. Isso tudo faz uma pessoa ganhar uma eleição. Não basta querer, tem que ter um grupo forte por traz”.
Potencial feminino
Lenilce mostra, com simplicidade e segurança, qual o caminho para tirar as mulheres que sofrem com o jugo masculino. “O primeiro passo é trabalhar nessas mulheres a autoestima, porque se você tem uma autoestima alta, você vai ter vontade de fazer, vai ter coragem de enfrentar. E que essas mulheres comecem a estudar, a conhecer as leis, a se informar mais, porque muitas vezes o que acontece com as mulheres hoje, por falta de informação, elas são massacradas, são oprimidas, são jogadas de lado. Até mesmo no campo do trabalho. Às vezes a pessoa está com um casamento tumultuado, com conflito, se a mulher não tem uma independência financeira, se ela não trabalha, se ela não produz, ela fica à mercê da vontade do homem. Que essas mulheres procurem estudar, procurem se cuidar, se amar, porque quando a pessoa se ama, tudo que se faz dá certo. É o amar, cuidar, crescer, estudar, procurar interagir no meio em que vive e não ficar omissa, não ficar alheia ao processo, porque na sociedade de hoje tudo é muito rápido na Internet, as redes sociais. Que nós não sejamos apenas uma figura bonita. Sair da concha. Ela é bonita, mas é inteligente, ela trabalha, é capaz, é dinâmica, é senhora de si, ela busca abrir esse leque para tudo que esteja em volta dela. Não é só a beleza que importa, não é só a estética, mas o que a pessoa pensa, como a pessoa age, o que ela faz no dia a dia é que faz a mudança”, conclui essa mulher que é um exemplo para todas as outras.
Parabéns a Lenilce por esse grande exemplo de mulher “Maravilha” que com dedicação e esforço todas podemos ser.
Obrigada Nelma pelo carinho.
Obrigada ao Jornal Informe Capixaba pela oportunidade que me foi dada. Grande abraço a Vanuza e Mônica.