As secretarias de Saúde Municipal e Estadual, em conjunto com o Ministério da Saúde, emitiram nesta segunda-feira (8) uma nota informativa sobre o surto de gastroenterite que atingiu alunos e funcionários de uma creche particular em Vila Velha, no Espírito Santo. Nela, os órgãos respondem dúvidas da população sobre cuidados, prevenção e exames, por exemplo.
Uma das recomendações é que alunos da creche, que tenham ou não apresentado os sintomas, não sejam matriculados em outra unidade de ensino até o fim do mês de abril.
O surto de infecção foi provocado pela bactéria Escherichia coli (E. coli). Até o momento, 22 pessoas apresentaram sintoma, sendo que um menino de dois anos morreu.
Menino Theo Cypriano morreu após nove dias internado, no Espírito Santo — Foto: Reprodução/ TV Gazeta
Segundo o Ministério da Saúde, esse é o primeiro caso registrado de morte pela bactéria. Infectologistas afirmam que é um caso raro agressivo.
Pais das crianças da creche onde surto aconteceu reclamaram da falta de informações e chegaram a acionar o Ministério Público.
No informativo divulgado nesta segunda-feira (8), os órgãos disseram que a investigação demonstra que há uma ligação entre as crianças sintomáticas e a creche.
Nos fundos da unidade, funcionava uma pequena fábrica de cerveja artesanal, onde foi encontrada a bactéria Escherichia coli (E. coli). A mesma bactéria apareceu em exames de crianças que tiveram os sintomas.
Cervejaria artesanal e creche foram interditadas após exame encontrar bactéria — Foto: Divulgação
Veja as perguntas respondidas pelos órgãos:
- O que caracteriza um surto?
Número elevado de casos de uma doença ou agravo, acima do esperado em um determinado lugar e período de tempo com vínculo epidemiológico.
- Todas as Gastroenterites Agudas (GEA) são iguais?
Não. As GEAs podem ser causadas por diferentes microrganismos infecciosos (bactérias, vírus e outros parasitas, como os protozoários). A depender do agente causador da doença e das características individuais dos pacientes, elas podem evoluir clinicamente para quadros de gravidade variável, incluindo a ocorrência de Síndrome Hemolítico-urêmica (SHU).
- O que é SHU?
A Síndrome Hemolítico-urêmica (SHU) é uma doença grave, observada mais frequentemente em crianças de pouca idade (menores de 5 anos), e se caracteriza por anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia e insuficiência renal aguda.
Em muitos casos, a SHU é precedida de doença febril, com gastroenterite, sendo a diarreia, geralmente, sanguinolenta.
A principal manifestação clínica é a insuficiência renal que afeta a maioria dos pacientes, acompanhada de palidez, hematomas e petéquias. A hipertensão arterial e manifestações neurológicas como irritabilidade, letargia, convulsões, coma, apresentam-se em 25% dos afetados.
Alterações em outros órgãos como pâncreas e coração, têm sido descritas na literatura com importante frequência.
- Quais cuidados devem ser tomados pelos pais de crianças assintomáticas, que estudam na creche e que neste momento estão em casa?
Orientamos que as crianças e familiares sejam observados por um período de 40 dias quanto ao surgimento de diarreia e sintomas de febre, palidez, fraqueza, inchaço, alterações do aspecto da urina ou parada de urina.
Devem ser intensificadas as medidas de higiene como a lavagem de mãos, cuidados com manipulação dos alimentos e higienização das crianças, entre outras descritas no decorrer na nota.
- Quais orientações devem ser dadas aos pais que tem filhos sintomáticos e que a princípio não receberam orientação médica para internação?
Comunicar a ocorrência do caso de diarreia a Vigilância Epidemiológica municipal através do tel: 3388-4185 ou 3388-4186. Caso surja diarreia mucossanguinolenta, palidez, vômitos, fraqueza, inchaço e diminuição ou parada de diurese deve ser encaminhada para avaliação em unidade hospitalar.
As crianças e seus contactantes (pessoas com vínculo epidemiológico com casos) que apresentam diarreia e não foram internadas precisam ser acompanhadas por profissional da saúde a cada 48 horas para exame físico e identificação de possíveis sinais de desidratação.
Recomenda-se que recebam hidratação oral e tenham a diurese monitorada; devem ser coletadas amostras de fezes para exames específicos. Evitar uso de antiespasmódicos (Buscopan, etc) e antiperistálticos (Imosec, etc) e Antibiótico empírico não está recomendado.
- Quais exames devem ser solicitados, caso os pais levem seus filhos sintomáticos leves e assintomáticos para uma investigação junto ao serviço de saúde?
Recomenda-se a realização de Coprocultura (indispensável para os sintomáticos), hemograma e função renal (creatinina e ureia).
- Crianças que estudam na creche de ocorrência do surto, assintomáticas e sintomáticas, podem ser matriculadas em outras creches?
No momento não. Considerando a gravidade desta doença, o período máximo de incubação de quinze dias e o período máximo de transmissibilidade de quinze dias, as autoridades de Saúde do Município, do Estado e do Ministério da Saúde recomendam que o retorno às aulas ocorra a partir do dia vinte e oito de abril de 2019.
Orientações
- Como prevenir a GEA?
1) Lave as mãos toda a vez que usar o banheiro, antes e depois de amamentar, trocar fraldas ou cuidar de doentes, antes de preparar ou ingerir alimentos, sempre que voltar da rua, após utilizar transporte público, após contato com terra e após contato com animais ou com o meio ambiente onde eles vivem.
2) Mantenha a higiene na cozinha. Ao preparar alimentos, não misture alimentos já cozidos ou desinfetados com aqueles ainda em preparação – evite a contaminação cruzada. Lave bem as mãos, as superfícies da pia e utensílios e os ingredientes a cada nova preparação. Cuidado com o contato das mãos com o lixo.
3) Proteja os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em recipientes fechados).
4) Cozinhe, frite ou asse sempre muito bem os alimentos, de forma que o calor atinja também o interior do alimento. Evite a ingestão de carnes malpassada e alimentos cujas condições higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias.
5) Alimentos que serão consumidos crus (verduras, legumes e frutas) devem ser bem lavados e desinfetados com hipoclorito de sódio a 2,5% (15 gotas para cada litro de água, por 30 minutos).
6) Evite a ingestão de leite e derivados não pasteurizados ou não fervidos.
7) Nos locais com surtos de diarreia, evite nadar em lagos, piscinas, rios ou outras coleções hídricas.
Recomendação adotada pelo município, estado e Ministério da Saúde:
Considerando a gravidade da doença, o período máximo de incubação de quinze dias e o período máximo de transmissibilidade de quinze dias, as autoridades de Saúde do Município, do Estado e do Ministério da Saúde recomendam que o retorno às aulas dessas crianças ocorra a partir do dia 28 de abril de 2019.
“Outrossim informa que o processo investigativo do estabelecimento particular é complexo e que demandará o tempo necessário à elucidação dos fatos, para que episódios da espécie não venham a se repetir”, finaliza a nota de recomendação.